Como tudo surgiu:

Em outubro de 2014, vi uma reportagem da revista Business Insider que contava a história de um casal de aposentados que decidiu passar o resto das suas vidas viajando, e que conseguiam isso com gastos de apenas USD 30,000 ao ano. Fiquei excitadíssima e a encaminhei imediatamente para o email do Edison com o título O NOSSO SONHO.


Edison ficou entusiasmadíssimo e respondeu É ISSO MESMO !!! ENTÃO É POSSÍVEL !?!?!? 

Então era possível realizar o sonho de passar o resto da nossa vida explorando e desfrutando das belezas do mundo! Tínhamos esse sonho separadamente mesmo antes de nos conhecermos e já tínhamos conversado inúmeras vezes sobre ele, sem achar que, com os nossos recursos, raízes e envolvimentos, seria um projeto viável.

Mas esse foi o ponto de partida para efetivamente começarmos a mover energias e tomar providências para tornar nosso sonho possível.

Eram tantas as questões e incertezas - de trabalho, família, do desapego das coisas materiais, dos recursos financeiros - que nem sempre acreditávamos que um dia o sonho iria concretizar.

Para mim, a parte mais difícil de tudo foi pensar que, saindo de Brasília - o que não tínhamos dúvida de que era o primeiro passo para a "VIAGEM" - deixaríamos longe as pessoas que mais amamos.


Mas também sabia que o sonho implicava saúde e disposição física para trekking, mergulho, montanhismo e, quem sabe, um viver meio nômade - o que começaria a ficar complicado se deixássemos para muito mais adiante - a idade começa a pesar e a disposição física vai diminuindo com ela. 


Se era possível, tinha que ser logo.

Esse logo demorou ainda três anos.


Foram três anos muito intensos. Era muita coisa, objetivamente, além da "viagem" em si: como seria esse nosso projeto de vida, como e onde começar, como sair de Brasília, como deixar nossos empregos, como custear essa nova vida, o que fazer ou desfazer de pertences de uma vida de acumulação de pertences, de obras de arte, de lembranças de viagens, de arrumação e decoração de um lar...?

Em 2013 tínhamos comprado e reformado um pequeno apartamento quase à beira-mar em Copacabana, pensando que o Rio de Janeiro seria a nossa base para a vida tranquila e de viagens.

Com o tempo, apesar de gostarmos muito do Rio e do nosso apartamentinho com a praia just around the corner, acabamos vendo que, definitivamente, nosso futuro não seria lá. Iniciamos a busca de onde morar no mundo – países bons e baratos. Novamente veio a dúvida EUA, Europa, Tailândia, etc. Já conhecíamos a vida fácil e barata da América do Norte, mas das duas opções de lá, Canadá é muito frio e EUA é difícil de conseguir um visto de residência.

Pesquisamos muito, perguntamos, trocamos e-mails e concluímos que, na Europa, Portugal seria um excelente ponto de partida para a nossa vida futura: é barato, tem visto especial e incentivos para aposentados e serve de base para perambular pelo velho mundo e mais para leste.

Mais indecisões: casa fixa ou móvel? Comprar um imóvel em Portugal ou alugar? Levar a moto?

Foram muitas pesquisas, conversas, discussões, idas e vindas até decidirmos viver uma vida nômade: nossa casa deveria ser reduzida a duas malonas para cada um e um carro grande, van ou similar, que seria nosso guarda-roupa, despensa e, eventualmente , cama.

A ideia era parar uma semana aqui, um ano ali, dois dias acolá. Tudo resolvido incrementalmente pelo caminho, até cansarmos. 

Não nos interessa um currículo de milhares de quilômetros rodados ou de dezenas de países visitados. É a nossa vivência, contato com o mundo com a natureza e com as pessoas que nos move nessa "viagem". 

De tudo o que implicou nossas decisões de onde e como viver o sonho, o exercício do desapego foi o mais penoso e desgastante nesses três anos finais: desapego do lar, dos pertences – “meus discos, meus livros...”, da moto, da vida fácil e confortável, mas, principalmente, da família. Minha relação com meu neto, Caio, é muito intensa. Embora trabalhada a decisão, ele e eu sofremos muito com a separação, mesmo mantendo contato por Internet.


Sala do apartamento antes do desapego...

...e uma semana antes de esvaziar definitivamente


O trabalho para desfazer e esvaziar o nosso apartamento a partir do fim de 2016 não foi fácil. Cada peça vendida ou doada levou um pouco das nossas lembranças e da nossa história e deixou um vazio não só na casa, mas no nosso way of life já tão estruturado. 

Difícil.

Depois de muitas idas e vindas e de passarmos dois meses já despojados no Rio de Janeiro, finalmente chegou a data do bota-fora.

Dia 24 de outubro de 2017 – saímos definitivamente do Brasil.

Comentários

Dayanny disse…
Que coragem!! Parabéns pela ousadia de viver o sonho de vocês e pelo desapego. Que Deus seja o guia de vocês diante dos desafios. Quero acompanhar esta aventura!! Abraço!!
Que história linda!!!
Vocês estão de parabéns, desejo muita sorte nessa jornada e muitos km rodados.
Já. Somos fãs de vcs.
Grande abraço!
Linda história de Amor!!! Por Deus, por vocês mesmo e pelo munfo. Resultado: a consciência do Ser dem muito Ter. Fantástico! !!Voem!!!
Dalva da Silva disse…
Que inspiradora a história de vocês!!
Lendo o texto, chego a me arrepiar de emoção e imaginar que é possível viver com menos e curtir a vida de uma forma mais intensa e, ao mesmo tempo, mais simples.
O minimalismo me atrai. ��
Parabéns pela coragem e decisão de vocês. Sejam felizes ❤️��
Elias Fragoso disse…
Marina, vc sempre teve um talento especial para se expressar e escrever.
Por isso está "convocada" a por esta experiência de vcs em livro.
Certamente vai encantar muita gente mundo afora...
Unknown disse…
As decisões de desapego são duras mas levam a viver uma vida de leveza espiritual. Parabéns por se permitirem viver um novo tempo de alegrias e descobertas. Certeza que no futuro ao findar esse tempo, tudo isso será um alimento para a alma. Vcs me são um incentivo a realizar tbem esse sonho. Parabéns. Deus os abençoe poderosamente.
Bom dia vcs tem canal no YouTube?
Maurilio disse…
Bellissima e coraggiosa scelta di vita, ci incontreremo fra qualche giorno nella nostr a casa di Domodossola,sará un piacere incontrarvi