Rumo à Rússia: as estradas e o início dos meus temores
Depois de uma bela estada em Berlim, estamos com tudo preparado para enfrentar aqueles que são os meus medos e inseguranças na jornada rumo à Rússia: como serão as estradas, onde abastecer, onde hospedar, e tantos outros que apareceram quando decidimos vir para este meio desconhecido caminho no centro-leste europeu e oeste asiático. Para além de Varsóvia, nomes de cidades como Poznan, Vílnius, Riga e Tallinn não são muito frequentes nos relatos turísticos e quem vem para cá normalmente se vale de voos ponto-a-ponto e não enfrenta os trechos rodoviários como pretendemos fazer.
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Como de costume, não temos pressa em acordar e sair. Tomamos café com Jorg, dono do apartamento onde nos hospedamos em Berlim e saímos em torno do meio dia para o percurso que nos levará a Varsóvia. Como o trecho até Varsóvia tem 574 km - e lembrando das nossas frequentes paradas para fotografar -, olhamos o Saint Google Maps e decidimos dividir o trajeto em duas partes, fazendo escala em Poznan, linda cidade polonesa no meio do caminho.
O trajeto escolhido por estradas de mão dupla sem pedágio nos leva a um sem-fim de cenários que inclui pequenas povoações, casas típicas coloridas e belíssimas alamedas ladeadas por altas e frondosas árvores, como verdadeiros túneis vegetais. Ainda estamos no verão, mas aqui e ali já se podem ver copas de um colorido mais alaranjado.
Vamos avançando por essas terras na expectativa de cruzar a fronteira com a Polônia e ver se meus temores são verdadeiros. Mesmo com mão dupla, a excelente estrada com pouco trânsito e motoristas educados permite ao Bruno (nosso carro) desenvolver alta velocidade com tranquilidade e só me dou conta que já estou na Polônia quando vejo uma placa em polonês indicando a proximidade de Poznan e a distância para Varsóvia. Marina dorme ao meu lado e, como não existe mais controle de fronteira na Comunidade Europeia, aparentemente passei a fronteira sem dar conta de uma eventual placa indicativa nesta rodovia sem nenhuma mudança desde que saímos de Berlim.
Aos poucos começo a notar as diferenças sutis para a Alemanha nas casas mais coloridas nos campos e beira de estrada, povoações menos frequentes e, é claro, na para nós incompreensível língua polonesa.
Chegamos em Poznan com facilidade. Apesar da dificuldade da língua, Tereza, nossa santa garota do GPS, nos leva certeira ao endereço do apartamento reservado por meio do AirBnB.
O edifício, como muitos que nos chamaram a atenção ao percorrer a cidade para vir até aqui, tem uma certa elegância sóbria desgastada pelo – imaginamos – domínio soviético. Na entrada, ao abrir uma pesada porta de ferro com fechadura digital um pouco enferrujada, um susto: um corredor escuro com iluminação escassa de uma única lâmpada, uma escada antiga com degraus de madeira descascada e as paredes de pintura parda, reboco semi aparente, poeira e entulho em um canto parece saído de um filme das invasões da segunda guerra. Com certeza estes corredores e escadas podem servir de cenário para um filme de perseguição nazista à resistência polonesa.
A busca pelo apartamento não é menos difícil: o edifício tem uma tipologia com pátio interno e várias entradas para diferentes escadas, o que não nos é familiar a estas alturas e que nos confunde, tanto quanto as tentativas de Marina se comunicar com a proprietária.
Finalmente à porta do apartamento espero o pior, dado às condições da entrada e das escadas até aqui.
Marina tecla o código da fechadura digital e nossa surpresa é grande. Por detrás da porta meio desgastada encontramos um excelente apartamento amplo, piso de madeira, móveis modernos, banho e cozinha luxuosos, equipada com lava-louça e lava-roupa, e tudo o que se deseja de um bom apartamento e uma boa noite de sono para prosseguir para Varsóvia no dia seguinte.
Passada Poznan, os próximos trajetos e paradas até chegar à fronteira da Rússia desfazem de vez os meus temores. As diferenças nas excelentes e belas estradas são sutis: da paisagem com casas coloridas da Polônia passamos para casas mais sisudas e espalhadas na Lituânia, de aparência um pouco mais pobre na Letônia e de arquitetura mais próxima da Rússia na Estônia. Mas nada que possa caracterizar claramente aos nossos olhos não habituados a estas terras que saímos de um país para outro, ou mesmo da Europa ocidental. Leroy Merlin, Ikea, Shell, BP, Decathlon, McDonald´s, KFC e outras marcas fazem presença à beira das estradas de todas as cidades e aglomerados maiores por que passamos.
Nas cidades, damos preferência por hospedar nas belas e bem preservadas Old Towns – ou próximo a elas -, onde o padrão do susto inicial se repete: com pequenas diferenças, os edifícios são mal conservados internamente e os apartamentos são sempre reformados e bem equipados. Exceção a esse padrão é o belo edifício e apartamento em que ficamos em uma área mais nova da rica e moderna Cidade de Varsóvia.
Varsóvia – uma Fênix na Europa Central - merece um artigo à parte.
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