REFLEXÕES AO LONGO DO CAMINHO


Trajeto traçado 


Dia destes fiquei meio sem resposta quando uma amiga  perguntou qual seria o ponto final da nossa viagem e qual o objetivo de fazer um percurso tão longo de carro entre Portugal e Rússia passando pela Europa Central e os países Bálticos.

Nesse dia me dei a pensar, pela primeira vez, qual foi mesmo o motivo que me levou a traçar um trajeto que, saindo de Portugal e passando pelo norte da Europa, nos levasse tão longe quanto possível dentro do território Russo.

Sobre o ponto final da viagem, eu já tinha a resposta desde que saímos definitivamente do Brasil: não é uma viagem, é uma jornada, uma vida nômade que não tem fim, posto que é for life. Tem paradas, mais, ou menos demoradas, e recomeços da andança. Moramos pelo caminho.

Mas o trajeto...meu primeiro traçado - de adrenalina e meio de brincadeira - também ia até Moscou e, de lá, mais 9.136 km Rússia a dentro, até o porto de Vladivostok, no extremo leste do continente, em pleno Mar do Japão, reproduzindo, de carro, o trajeto do trem TranSiberiano. De lá, no meu delírio, voltaríamos cruzando a China e tantos países quanto possíveis/necessários para voltar a Portugal.


Claro que, com a nossa estrutura e condições de viagem essa jornada era irrealizável. 

O realizável era o traçado presente, que vai Rússia adentro até São Petersburgo e depois Moscou, nosso ponto de retorno rumo aos Países Baixos e de volta a Portugal, passando pela Ucrânia, Eslováquia, Tchéquia e Alemanha novamente.

O MOTIVO

Riga, Letônia - Hoje, dia 3 de setembro de 2018, o motivo de chegar até aqui, e ir adiante, está claro: mais do que pela vida nômade, pela aventura e pelo conhecimento do mundo, é pelo desafio de enfrentar os meus medos e inseguranças nestas terras meio desconhecidas, da Alemanha para diante. 

Pelo que me foi ensinado na escola, esta parte do mundo era meio terra destruída, invadida e ocupada sucessivas vezes, parte do bloco soviético, com um histórico de guerras, invasões e devastação, além de ser berço de vampiros, bruxas e narrativas de terras sombrias e aterrorizantes. 

Enfrentar a minha própria concepção sombria de tais lugares – quem sabe desprovidos e ainda devastados, mesmo que não mais comunistas - sozinho com a Marina e um único carro ano 2011 não seria uma temeridade? Como serão as estradas? Como prever o abastecimentos? Como fazer a manutenção do carro? Onde alimentar-se e hospedar pelo caminho? Por mais que as informações da Internet ajudassem a ver uma realidade menos ameaçadora, o trajeto sem auto-estradas - basicamente por estradas de interior -, e por lugares pouco conhecidos e de pouca informação ainda parecia aventuresco, e arriscado, sem contar com o trajeto na Rússia - este alimentado com as incontáveis histórias e vídeos assustadores de motoristas loucos e bêbados.

Esse enfrentamento, que demandou armar-me de coragem e um bom tempo de preparação logística e psicológica, está fazendo valer cada dia da nossa vida nômade, muito mais que do que os dias de viagem confortável por lugares conhecidos.

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Em outros posts seguiremos atualizando os pontos do caminho

Por: Edison Pratini

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