A difícil vida livre-leve-solta
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Na região de San Giminiano, Toscana, Itália |
Ser nômades pelo mundo é desfrutar uma invejável e charmosa
vida de eternas viagens, livre, leve e solta, sem as amarras da sociedade,
sonhada por muitos como o seu próprio ideal, certo?
Errado!
A vida pode ser invejável quando você olha de fora, contando
a quantidade de novas experiências, informações, lugares e gentes que
conhecemos. Mas a operacionalização e manutenção dessa vida não tem nada de
charmosa, livre, leve e solta.
A sociedade tem amarras que transcendem as fronteiras
geográficas, e adiciona ainda regras, princípios e costumes àquelas que
trazemos do nosso país de origem.
Tudo isso impõe limites à liberdade de viver, ir e vir, e
barreiras ao nosso desejo de viver sem casa ou residência fixa, sem tempo e sem
agendas, livres, leves e soltos no mundo como imaginamos verdadeiramente
nômades.
A nossa decisão de mudar para a Europa baseou-se no anúncio
de que Portugal estava incentivando aposentados a viverem nesse país. E mudar-se
para Portugal parecia ideal: largaríamos tudo para trás no Brasil e, chegando
aqui, viveríamos felizes para sempre em um país hoje de primeiro mundo.
O largar tudo se revelou muito mais difícil do que prevíamos
e, chegados aqui, a burocracia nos pegou pelo pé, exigindo, durante dois anos,
inúmeras voltas para cumprir os requerimentos portugueses de tudo.
Mesmo tendo lido e estudado bastante o assunto, no nosso
sonho Europeu queríamos tudo mais fácil - Sem
lenço, sem documento / Nada no bolso ou nas mãos / Eu quero seguir vivendo...
Mas a Realidade Matrix não é assim.
A Realidade Matrix é cheia de certidões, atestados,
provas de identidade, números fiscais, CPF para o Brasil e NIF para Portugal, INSS,
passaporte, carteira de motorista, cartões de crédito, números de contas
bancárias, comprovante do imposto de renda, dos rendimentos, atestado de
residência e toda sorte de papéis a mais que alguém possa imaginar e inventar
para que supostamente possamos viver com “facilidade e segurança”.
Na Realidade Matrix ,
não basta ser contatável por meios eletrônicos. Todo indivíduo precisa ser
localizável. Além de declarar, precisa provar redundantemente uma residência e
domicílio.
Mas a vida nômade não tem endereço e nem número de telefone
fixos, o que é incompatível com o Sistema.
O Sistema precisa enviar e ter
retorno de SMS enviados para um número de celular que pode não ser válido de um
país para o outro; documentos revalidados em um país - carteiras de motorista,
de identidade e outros – precisam ser enviados para um endereço de residência registrado
que pode não mais ser válido; a verificação ou cancelamento de
registros/inscrições antigas em portais de empresas ou de entidades
governamentais muitas vezes nos requerem informações que já não temos mais.
No Sistema da Realidade Matrix, como conciliar o endereço
fiscal e o salário na conta bancária brasileira com o nosso endereço declarado
e nossos débitos na conta portuguesa? Ou um carro japonês, com matrícula
portuguesa, um passaporte brasileiro, um número celular português e outro
italiano na Rússia? Ou um carro com matrícula da Europa rodando por mais de 90
dias fora espaço Schengen?
Por não sermos residentes fixos, fazemos malabarismos e,
muitas vezes, acabamos dependendo de amigos e familiares que, feliz e
amavelmente, nos auxiliam. Só temos que agradecer a todos e muito queridos
amigos e familiares por toda a sua ajuda e apoio.
Assim é que seguimos nossa Jornada para um Sonho, com lenço
e com documentos, agora com poucas coisas no bolso e nas mãos, e vamos seguir
vivendo.
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