Notícias da Toscana e da Itália em Tempos de Corononavírus





Covid-19, nova portaria sobre deslocamentos 

A partir de 22 de março (até a entrada em vigor de um novo dpcm), é proibido que todas as pessoas físicas se desloquem ou se desloquem com meios de transporte públicos ou privados em comum, exceto aquele em que estão localizados, exceto por necessidades comprovadas de trabalho , de urgência absoluta ou por razões de saúde


COLLE DI VAL D´ELSA, TOSCANA, 24 DE MARÇO DE 2020 

Não temos TV a cabo, mas a imagem que nos vem da antena na Panasonic de 60” é melhor que a da NET que tínhamos em Brasília. Acompanho os canais abertos de notícias que nestes tempos dedicam-se quase que exclusivamente a falar sobre o coronavirus. “Pandemia está acelerando”, alerta OMS. Trump delira ao afirmar “Vamos reabrir os negócios em breve”. Agentes de saúde em trajes de guerra biológica testam motoristas nos pontos de entradas dos municípios. Carros da Polizia e dos Carabinieri param, pedem documentos e explicações às raras pessoas que ainda andam a pé na rua. 

Os números do dia são apavorantes : 3491 infectados e 683 mortos em 24 horas na Itália. 

Mesmo assim, nas filas espaçadas fora dos supermercados, os italianos - na maioria de máscara e luva plástica – parecem menos tensos do que há duas semanas: logo depois das medidas mais severas do dia 9 de março vi uma cena de quase-violência porque o segurança não permitiu que um homem entrasse com sua “moglie”. “Una persona per famiglia“, é a ordem. Talvez mostrem-se menos tensos agora porque ir ao supermercado é uma oportunidade permitida de sair à rua. 

Mas por que viemos parar aqui, em plena pandemia do coronavirus, quando estávamos em um lugar bastante seguro em Portugal, todos nos perguntam!? 

A explicação é que esta vinda estava programada há bastante tempo e, antes mesmo do coronavirus, já tínhamos o apartamento reservado e alugado neste delicioso burgo de Colle di Val D´Elsa. 

Ainda estávamos em Costa da Caparica quando as primeiras notícias de epidemia no eixo Milão – Bérgamo apareceram. Ainda estávamos relutantes até o dia da saída de Portugal, 2 de março. 

As notícias que vinham daqui não eram preocupantes nem alarmantes. O governo italiano dizia que estava tudo sob controle. A proprietária deste apartamento em Colle di Val D´Elsa, e nossos primos italianos da região do Piemonte e em Gênova nos tranquilizavam dizendo que existia muito exagero da mídia. Como andávamos de carro e viríamos por autoestradas bem ao sul da área afetada, para uma cidade pequena, fora da temporada turística, nos sentimos seguros e fomos em frente. 

Depois de pernoitar em Alcalá de Henares na Espanha, e Perignan na França, dia 4 de março à noite chegamos a Gênova, nosso ponto de entrada na Itália. A cidade estava pouco movimentada, já com restrições de deslocamento, mas os italianos circulavam, com gente nos bares e restaurantes, despedindo-se e dando beijinhos. Àquelas alturas, já com receio de contágios, fiquei meio sem jeito quando, no dia seguinte, o dono do apartamento que alugamos para pernoite me falou de muito perto e deu um caloroso aperto de mão. 

Em Colle di Val D´Elsa, nosso destino, a situação era a mesma, com a vida correndo normalmente. 

Passados apenas dois dias, porém, vimos a epidemia se alastrar pela Itália de forma alarmante. Mais dois dias e o governo estabeleceu restrições estritas para deslocamentos entre cidades. Mais dois dias, e foram restritos os deslocamentos pelas ruas. 

Era dia 11 de março. Apenas nove dias depois que saímos de Portugal e seis dias depois da nossa chegada a Colle di Val D´Elsa vimos a Itália parar e o pânico começar a se instalar no norte. Antes das primeiras medidas mais sérias de contenção no dia nove, houve uma fuga maciça de pessoas para o sul, o que ajudou a espalhar o vírus por toda a Itália. 

Depois disso, a Polizia e os Carabinieri tomaram conta. Estradas foram fechadas, e a fiscalização até mesmo de deslocamentos a pé ficou rigorosa – nós mesmos fomos abordados e questionados sobre o que fazíamos caminhando na rua principal do centro histórico; como justificamos que morávamos ali, fomos deixados apenas com uma advertência, recomendação de ir para casa e usar máscaras na rua. Hoje, duas semanas depois, sairíamos com uma multa pesada e/ou prisão. 

Hoje estamos recolhidos. A ordem severa é “STAI A CASA”. Só não nos sentimos confinados porque o apartamento é espaçoso – uma pechincha em tempos de coronavirus aliado à baixa estação. E a ida semanal ao supermercado é a oportunidade de andar ao sol da Toscana, mesmo que só no estacionamento do CONAD.

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