A quarentena na Itália foi estendida até 13 de abril de 2020.

Esta é a segunda vez que moramos neste lindo burgo de Colle di Val D'Elsa. A primeira, no ano passado,  nos deliciou com um lindo e ensolarado outono. Foi aqui que celebramos dois anos de vida nômade e quinze anos de casamento. 

Agora, em plena primavera, temperatura de 22ºC e sol pleno, logo nos primeiros dias da nossa chegada fomos brindados com uma quarentena cada vez mais severa e suas extensões devido ao COVID-19.

No fim do primeiro mês mudamos para este apartamento ensolarado, cujas janelas do quarto dão vista para a charmosa Piazza Sant´Agostino em frente e mostram as ruas desertas ao redor, em contraste com a efervescência dos tempos normais desta época de primavera e o lindo sol da Toscana. 







Que diferença da cidade alegre, vívida e movimentada. Esta é uma Colle silenciada pelo medo e pela incerteza. Ouve-se apenas o trinar alegre dos pássaros a nos lembrar que a primavera chegou. As raras pessoas na rua passam meio incógnitas com sua máscaras anti-coronavirus que lhes cobrem metade do rosto. Há muitos carros estacionados. Percebe-se que as casas estão habitadas apenas pelas vozes de crianças e adultos que vazam pelas janelas. Volta-e-meia vemos alguém estendendo roupas nos varais típicos das cidades italianas




Na rua...tudo deserto e estranhamente calmo. É o silêncio da incerteza.

Demorou um pouco para a população local se convencer de que o cumprimento do decreto #iorestoacasa era importante. O Governo teve que tomar medidas controladoras, repressivas e educadoras para que as pessoas - especialmente os idosos - não ficassem mais pelas ruas. Foram adotadas abordagens de policiais que circulavam de carro pela cidade, advertências, e ordens de prisão para os mais resistentes. Além dessas, até hoje circulam veículos com auto-falantes que transmitem informações sobre a situação, sobre os decretos do governo e mensagens sobre a necessidade de ficar em casa para a contenção do vírus.



Os canais italianos de TV aberta divulgam um comunicado oficial sobre as medidas de prevenção contra o coronavírus em todos - isso mesmo - todos intervalos de filmes, noticias, etc., numa verdadeira lavagem cerebral amedrontadora. 

Além disso, creio que cenas trágicas divulgadas no mundo todo - como aquela de caminhões do exército transportando caixões da região de Lombardia para outro local por conta de excesso de corpos nos necrotérios - também contribuíram para a conscientização dos italianos sobre a epidemia - hoje pandemia. 

Os supermercados, farmácias e outros estabelecimentos que têm permissão para funcionar, condicionam o uso de luvas e máscaras para a entrada dos consumidores, além de limitarem a circulação de pessoas nos seus interiores. Grandes filas se formam no exterior do supermercado. 






Hoje, mesmo com a prorrogação por mais uma semana desta quarentena que já dura um mês - até 13 de abril - nota-se as pessoas arriscando-se um pouco mais nas ruas e abertura de estabelecimentos como tabacarias e floriculturas. Alguns restaurantes e pizzarias funcionam, mas somente com delivery. 

Com a temperatura subindo, há uma movimentação discretamente maior pela cidade. 

Para mim, o momento mais marcante e impressionante desta quarentena foi o Momento Extraordinário de Oração em Tempo de Epidemia levado a efeito pelo Papa Francisco no dia 27 de março no Adro da Basílica de São Pedro. O mundo olhou pasmado para a figura claramente cansada e solitária de Vossa Santidade, num dia sombrio e chuvoso, orando pela humanidade no meio de uma das praças mais bonitas do mundo. Para mim, mais do que o Cristo no crucifixo trazido para a praça, era como se ele, o Papa Francisco, frágil criatura, carregasse frente a Deus todas as mazelas e pecados do mundo.  Ele, o Papa Francisco, a imagem solitária naquela imensa praça capaz de abrigar milhares de pessoas, na chuva, apenas secundado pelo Monsenhor Guido Marini. Imagem fascinante e admirável, que no momento em que escrevo me fez lembrar outra, de um homem solitário enfrentando um batalhão de tanques na Praça da Paz Celestial.  

Foto retirada do site do Vaticano



É, é um momento de reflexão para todos nós. 


Comentários

Unknown disse…
Nós aqui assistimos e rezamos junto com o Papa por toda a humanidade, para não percamos a fé jamais e para que esta fé alimente a nossa esperança de que superaremos tudo isso, que venceremos a pandemia do coronavírus. A Itália começa a ver, aos poucos, os números de contaminados e vítimas fatais baixarem, e isso nos anima, mas infelizmente, os números no Brasil ainda estão crescendo, e apesar de não estarem crescendo na velocidade esperada inicialmente, não temos ainda como nos animar. Diferentemente daí, aqui não há um real controle sobre a circulação das pessoas, o que faz com que muitos irresponsáveis continuem se expondo e nos botando a todos em risco. Além disso, não há controle algum sobre a quantidade de pessoas nos mercados, muito menos, sobre a distância que deve ser respeitada nas filas. Isso está longe de acontecer por aqui, o que me preocupa muito. Mas vamos continuar rezando por todos os contaminados, por todos que faleceram, por todas as famílias que perderam entes queridos, por todos que não foram contaminados e por todos os irresponsáveis, para que estes tenham um lampejo de consciência, se poupem e nos poupem. Fiquem bem aí, ficaremo bem aqui, se Deus quiser. Beijos