#IORESTO A CASA - Fase 2 da quarentena
Na nossa postagem de 28 Outubro de 2019 (Dois anos de vida nômade: há um certo tédio e cansaço no ar) estávamos nesta mesma cidade, Colle di Val d´Elsa, com um programa intenso para percorrer a Itália por mais um mês. Naquele texto, falávamos do tédio acompanhado de um desapontamento por conta da repetição. Estávamos cansados e refletindo a respeito da intensidade da nossa experiência nômade. Se, por um lado, andávamos perambulando e buscando as belezas desse mundão, por outro, estávamos cansados da própria jornada. Em nossos altos e baixos de reflexão, paramos aqui por uns dias e recarregamos as energias para mergulharmos em mais uma aventura.
Parece que este belo e aconchegante burgo medieval da Toscana nos inspira a reflexões.
Mas desta vez, a parada veio compulsoriamente na quarentena do coronavirus e as reflexões decorrem do cansaço exatamente oposto ao anterior, o #Iorestoacasa, a obrigatoriedade de ficar - mesmo que nem tão confinados no nosso apartamentinho espaçoso e arejado -, a mobilidade é restringida pelo medo do contágio.
Mas desta vez, a parada veio compulsoriamente na quarentena do coronavirus e as reflexões decorrem do cansaço exatamente oposto ao anterior, o #Iorestoacasa, a obrigatoriedade de ficar - mesmo que nem tão confinados no nosso apartamentinho espaçoso e arejado -, a mobilidade é restringida pelo medo do contágio.
Na próxima 2ª feira, dia 4 de maio, inicia-se a fase 2 da quarentena em toda Itália. O funcionamento de bares e restaurantes estará permitido para retirada no estabelecimento - antes era permitido somente o serviço de entrega - fábricas e indústrias voltarão a funcionar seguindo protocolos de segurança. Atividades ao ar livre como ciclismo e corrida serão permitidas, mas não em grupo. Estas e outras medidas vão nos dando, aos poucos, uma maior sensação de liberdade. Não será permitido, todavia, o deslocamento entre as regiões (equivalentes a estados) e tampouco entre os países cujas fronteiras estão fechadas. Apesar do afrouxamento de algumas das medidas de isolamento, o Governo seguirá controlando a evolução da pandemia. Se os números piorarem, poderá retroceder.
Embora os italianos estejam mais animados e pressionem o governo por uma reabertura maior, vivemos sob ameaça de um vírus que para uns parece perigosamente mortal, para outros é uma questão de fé e para outros uma manipulação político/econômica explicada por engenhosas teorias de conspiração.
No fim das contas, o medo e a insegurança ainda pairam no ar. É engraçado ver que mesmo os que negam a pandemia usam máscaras - just in case - até quando não há obrigatoriedade.
Enquanto isso, as redes sociais, jornais e televisão exibem imagens das maravilhosas cidades turísticas italianas, desoladas, clamando por sua fonte de renda. Em contrapartida, vê-se a felicidade dos habitantes que, pela primeira vez na vida, podem olhar para suas belezas às vezes sequer imaginadas, sem interferências de multidões. A natureza, por sua vez, começa a exibir-se das mais variadas formas, e chama a atenção a respeito do tênue limite entre o desfrutar humano e o simplesmente belo.
No fim das contas, o medo e a insegurança ainda pairam no ar. É engraçado ver que mesmo os que negam a pandemia usam máscaras - just in case - até quando não há obrigatoriedade.
Enquanto isso, as redes sociais, jornais e televisão exibem imagens das maravilhosas cidades turísticas italianas, desoladas, clamando por sua fonte de renda. Em contrapartida, vê-se a felicidade dos habitantes que, pela primeira vez na vida, podem olhar para suas belezas às vezes sequer imaginadas, sem interferências de multidões. A natureza, por sua vez, começa a exibir-se das mais variadas formas, e chama a atenção a respeito do tênue limite entre o desfrutar humano e o simplesmente belo.
Para nós - nômades - resta a indefinição. Temos mais cinco meses para curtir e viver o que vier no verão da Toscana. Esse tempo foi decidido antes da crise, e deveria servir para resolver a papelada de cidadania na burocracia italiana.
Agora, seja lá o que venha - e as perspectivas são de alívio da crise - temos a felicidade de estar no centro da Toscana, uma das regiões mais lindas da Itália, junto dos maiores monumentos do renascimento italiano.
A indefinição vem das incertezas pós-coronavirus. Quanto tempo ainda teremos restrições ou perigo de contágios? A pandemia mudará a humanidade, as relações humanas, as relações econômicas, as formas de viver? Ou voltará à "normalidade", às guerras, ao terror, ao egoísmo e à pobreza de sempre - ou pior?
No cenário cinza de prolongamento do perigo desenhado por muitos, nos resta a indefinição de estarmos sanitariamente "ilhados", de sermos forçados a fixar em algum lugar, da dependência das políticas brasileiras para nossa sobrevivência na Europa, e outras tantas questões.
Se não houver um tratamento e uma vacina, esta não é uma "guerra" que se possa vencer, que tem um fim e logo a reconstrução. É um mal que se alastra dependendo unicamente da ação humana. É um mal para o qual o remédio é a "humanidade", o "ser" humano com virtudes e pensamento nos outros seres humanos.
Do contrário, corremos o risco de nada aprender com a pandemia e sair dela em um cenário de filme hollywoodiano pós-catástrofe.
Se não houver um tratamento e uma vacina, esta não é uma "guerra" que se possa vencer, que tem um fim e logo a reconstrução. É um mal que se alastra dependendo unicamente da ação humana. É um mal para o qual o remédio é a "humanidade", o "ser" humano com virtudes e pensamento nos outros seres humanos.
Do contrário, corremos o risco de nada aprender com a pandemia e sair dela em um cenário de filme hollywoodiano pós-catástrofe.
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