Arrivederci, Colle di Val d'Elsa
Viver uma vida nômade é seguir a trilha que abrimos a cada parada, a cada morada e a cada visita. Com o alívio da pandemia e a declaração de zona amarela em toda Itália, chegou a hora de irmos adiante, exatamente um ano e dois meses depois do Covid-19 nos obrigar a ficar limitados por tanto tempo. Partimos de Colle di Val d´Elsa para nossa jornada rumo ao Sul da Itália no dia 5 de maio.
Preferimos não fazer um planejamento longo, deixando para resolver lugar e tempo de estadia a cada parada. "Pian piano" vamos nos deslocando. Por ora, o plano é passar um mês numa cidade que possa servir de base para visitar Nápoles, Pompéia, o vulcão Vesúvio e suas redondezas. Nossas pesquisas exaustivas nos contemplaram com um bom apartamento de frente e com vista para o mar - pé na areia mesmo - com aluguel surpreendentemente acessível, em Castel Volturno, balneário a 30km do centro de Nápoles.
Como o trecho Colle di Val d´Elsa até Castel Volturno é longo e gostamos de andar picando pelo caminho, optamos por um trajeto com 2 paradas: uma em Pittigliano - borgo medieval ainda na Toscana - e a outra, decidida no percurso, San Felice Circeo.👇

Tínhamos esquecido o trabalho que dá organizar as nossas coisas e deixar o apartamento em ordem para o proprietário. Levamos uma semana para separar tudo, organizar as malas, caixas e sacolas. Já tínhamos descoberto antes que desapego tem um limite; 😂. Apesar de alugarmos os apartamentos já mobiliados, eles não costumam ser completamente equipados como gostamos. Sempre falta alguma coisa. Temos uma boa tralha para carregar, além da variedade de roupas e sapatos: são os apetrechos de cozinha, ferramentas, eletrônicos, fotografia, escritório, bebidas, etc. E considere-se que carregamos menos coisas hoje em dia depois que o Bruno foi esvaziado por um furto em Roma em 2019.
Enfim, mesmo com todo entusiasmo para reiniciar a nossa jornada, é sempre muito cansativa a parte da organização das coisas, do planejamento da viagem e das reservas de hospedagem.
Dia 5 de maio: Colle di Val d' Elsa »»» Pittigliano, região da Toscana.
Esse borgo é famoso pela maciça rocha íngreme de tufo que o sustenta no seu cume e por esse motivo é também conhecida como a cidade do tufo. Na rocha de base de Pittigliano ainda existe uma rede de cavernas e túneis subterrâneos que servia de abrigo e foram mantidos e ampliados desde os tempos pré-históricos. É uma verdadeira cidade subterrânea escavada na rocha. Sempre que pegávamos a estrada nacional para irmos à Roma ou para as praias de Grosseto, avistávamos Pittigliano lá no alto de uma rocha com cavernas e ficávamos desejando visitá-la. Agora chegou a hora.
Ainda não saímos da Toscana, mas a partir de Pittigliano podemos perceber uma mudança de paisagem que já não mostra mais aquelas românticas casas de fazendas em suaves colinas adornadas com ciprestes. O sul da Toscana é mais selvagem e sua paisagem vai se tornando mais parecida com a região vizinha, o Lazio.
Uma parte do centro histórico de Pittigliano é apelidada de A Pequena Jerusalém por abrigar uma grande comunidade judaica. Foi justamente nessa Pequena Jerusalém que alugamos um apartamento pelo Airbnb. A rua é estreita com degraus longos. A passagem da rua para o apartamento é formada por um túnel com paredes de pedras escuras que revelam uma época bem distante da nossa. O proprietário nos disse que é uma construção do século XVI e que fez algumas renovações para torná-la mais moderna. O apartamento conserva algumas partes de época, como a lareira - anacrônica por ocupar, sem uso, quase um terço de uma das paredes da pequena sala. Durante o nosso jantar, tentamos imaginar uma família sentada nesta mesma sala, aguardando a comida que cozinhava num caldeirão pendurado em cima das brasas na lareira. E, ao mesmo tempo, se aquecia do frio. As três toras de madeiras que ali estavam, inertes e frias, num instante se transformaram para nós num pequeno filme da época medieval.
Dia 6 de maio: Pittigliano »»»» Termas de Saturnia
Caminhando pelas ruas semi desertas de Pittigliano sentimos um certo desolamento no ar. As flores de primavera que nessa época costumam enfeitar as entradas das casas de borgos famosos estão murchas, encolhidas em seus vasos. É a natureza, cobrando pela quarentena, isolamento e abandono impostos pelas tentativas de debelar a pandemia. Em umas poucas casas, vêem-se as mulheres cuidando de suas plantas, insistindo num fio de esperança de que seus jardins possam voltar a alegrar a cidade ainda sofrida pelas restrições. Aqui e ali pode-se notar alguma movimentação devida à recente liberação para funcionamento de restaurantes e museus; até escutamos alguns idiomas diferentes pelas ruas.
Vídeo de Pitigliano 👇
A partir de Pittigliano aproveitamos uma tarde linda e ensolarada para visitar Termas de Saturnia, uma cascata de água mineral termal sulfurosa, com aquecimento natural médio de 37 graus. Dizem que sua composição guarda o segredo das suas propriedades benéficas para a saúde da pele, músculos e ossos. Achei linda e não pensei duas vezes para usufruir desses benefícios. Fiquei relaxadíssima depois. Adorei.
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Cascatas de Saturnia. Foto de @Edison Pratini |
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Cascatas de Saturnia. Foto de @Edison Pratini |
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Cascatas de Saturnia. Foto de @Edison Pratini.
Dia 7 de maio: Pittigliano »»»» Civita di Bagnoregio.
Nos despedimos da Toscana e começamos a entrar na região de Lazio para visitar Civita di Bagnoregio. Trata-se de um borgo fundado pelos Etruscos há 2.500 anos. É considerado um dos Borgos mais belos da Itália e eu concordo plenamente. Por estar no topo de uma montanha arenosa, ele está ameaçado de desmoronar devido aos deslizamentos e erosão do solo, e por isso é também conhecido como La Città che Muore - a Cidade que Morre. Diferentemente de Pittigliano, Bagnoregio conta com muitas casas enfeitadas e floridas. Muitas lojinhas de lembranças e restaurantes estão abertos contribuem para a movimentação da cidade. O borgo é acessível somente a pé, pela travessia de uma ponte de concreto armado, - cá entre nós, uma ponte mais delicada combinaria mais com o charme medieval/renascentista. Apenas residentes e pessoas autorizadas podem atravessar a ponte de motocicletas.
Video de Civita de Bagnoregio 👇
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Civita di Bagnoregio. Foto de @EdisonPratini |
Dia 7 de maio: Civita di Bagnoregio »»»» San Felice Circeo.
Nossa primeira parada na parte Centro-Sul da Itália, mas ainda na região de Lazio, tem o nome San Felice Circeo. Foi uma escolha totalmente ao acaso. Pesquisei pelo Booking um hotel localizado no trajeto e encontrei uma joia! Com direito a vista para o mar e um delicioso café da manhã. E de bonus conhecemos um funcionário italiano, casado com uma brasileira, que foi super atencioso e prestativo. A partir daí, sentimos o calor humano que tanto falam da parte sul da Itália.
Dia 8 de maio: San Felice Circeo »»»» Castel Volturno
Nossa primeira parada na parte Sul da Itália, é Castel Volturno, região da Campanha e província de Caserta. Não há nenhum motivo especial para a escolha dessa cidade. Digo, não tínhamos nenhuma referência turística a seu respeito. Inicialmente, estávamos planejando ficar em Nápoles como base para percorrer as cidades da região, mas não conseguimos encontrar um bom apartamento pelo preço que podíamos pagar. Depois de procurarmos bastante pelos sites, encontramos um ótimo apartamento com vista para o mar! Ficamos muito felizes com a ideia de termos a facilidade de somente colocar o chinelo para ir à praia.
O apartamento fica em um dos blocos de um condomínio fechado à beira-mar. Logo na chegada pudemos ver o descaso com a limpeza urbana e com a manutenção dos prédios do condomínio. Como pode um lugar tão privilegiado estar nessa condição...para mim é descaso total tanto da administração pública quanto dos proprietários dos imóveis.
Felizmente, o apartamento é bom, no oitavo andar, só precisa de alguns reparos e manutenção, é fato. Mas, é razoavelmente bem equipado e muito maior do que vimos nas fotos do Airbnb, além de contar com uma enorme varanda com vista para o mar! A foto no Airbnb não mostra uma varanda tão grande. Ficamos muito felizes quando vimos. Logo que chegamos, fizemos alguns ajustes para que ele se transformasse nossa casa por um mês e celebramos a vista privilegiada e nosso primeiro dia de frente ao mar jantando na varando ao por do sol.
A localização desta nova "morada" permitiu deslocarmos com facilidade para Nápoles, Pompéia, o vulcão Vesúvio e arredores, além de ter a praia e o mar Tirreno à disposição todos os dias. O único senão se deu por conta dos ventos fortes na maior parte dos dias deste mês de maio, o que não ajudou a curtir o mar pela varanda do apartamento. De resto, como temos também a vista do Vesúvio deste oitavo andar, pudemos escolher, junto com consultas à meteorologia, o dia perfeito para ir visitar a cratera daquele que destruiu a cidade de Pompéia. Falaremos sobre essas visitas na próxima postagem.
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